25 março 2007

Estudante profissional

Eu ainda era estudante secundarista, quando, pela primeira vez, ouvi falar em "estudante profissional". Na época, havia uma movimentação em torno da refundação da Associação Metropolitana dos Estudantes Secundaristas do Rio de Janeiro (AMES-RJ), além de alguma articulação em torno do Centro Cultural da Juventude Secundarista (CCJS), no qual militava o atual governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. A expressão era utilizada para se referir àqueles que se eternizavam nos bancos escolares. Era o sujeito com anos de colégio ou faculdade, que raramente frequentava as salas de aula, já que estava ocupado com a mobilização e a conscientização das massas estudantis. Bem mais tarde, passei a ouvir a expressão, no contexto do censo do ensino superior, como referência a um perfil específico de estudante universitário, ou seja, o estudante que também trabalha. Eis que, na última edição da revista Veja (edição 2001, 28.03.2007), descubro um novo significado para a expressão: ela ainda diria respeito a estudantes que adiam suas formaturas e "eternizam" suas estadias nos bancos escolares. Mas, agora, por outra razão: eles desejam prolongar a condição de estagiários, até obterem a certeza de uma eventual efetivação no emprego. Em outras palavras, o prolongamento desnecessário dos estudos dar-se-ia até a obtenção do primeiro emprego. O fenômeno é interessante e mostra como a correlação entre diploma, profissão e mercado de trabalho é cada vez mais complexa. Na área jurídica, ao se tomar a pressa e a ansiedade com que os alunos desejam completar o curso como referência, pode-se assumir que o fenômeno parece não ter grande impacto. Na verdade, no curso jurídico, parece produzir-se um outro fato que é o estágio precoce. Com efeito, mal encerrado o primeiro ano de estudos, os alunos parecem ávidos por ingressar no mercado de trabalho, em estágios mal remunerados ou mesmo sem qualquer remuneração. É a pressa de aprender o ofício judicial conjugada com o desejo de encurtar os estudos para talvez buscar a estabilidade do serviço público. Esse, entretanto, é um outro fenômeno, talvez específico à área jurídica, que merece um olhar mais cuidadoso.

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